O meu amigo Riba Mearim é judoca.
Vivia me convidando para ir à academia dele. Queria que eu visse um treino de
judô, que segundo ele, é uma coisa maravilhosa. Como não sou chegado a essas
coisas de esporte, resisti bastante. Um dia, porém, depois de tanto ele insistir,
fui conferir essa maravilha de que tanto ele falava. Fui. Mas só fui porque
pensei logo nas gatas que eu poderia ver. Imaginei um monte de mulheres lindas,
suadas, de roupas de ginástica coladinhas... Isso, sim, é maravilhoso!
Que decepção!
Quando lá cheguei, me deparei com
um monte de malucos. Em vez de modelitos de ginástica, todos vestiam umas roupas
doidas, tipo pijama, brancas ou azuis. Lá eles só usam essas duas cores.
Sabe-se lá!
A academia funciona numa casa
comum adaptada. Tem um monte fotografias nas paredes. Há troféus e medalhas por
tudo quanto é lugar. Pelo que pude perceber, eles têm muito orgulho daquele
monte de quinquilharias. Vai entender, né?
Me chamou atenção a foto de um
japonês que eles se ajoelham, sei lá... Parece que pedem a benção dele, coisa
muito esquisita, viu?
Aí começou o bendito treino que o
meu amigo tanto insistiu para eu ver. Começaram fazendo tanto exercício físico,
que só de ver, a gente fica exausto. Verdade... Coisa de doido, mesmo!
E a doidice é ainda maior porque
é tudo junto e misturado. É gente de todas as idades. São homens, mulheres,
meninos, meninas...
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Então um cara que eles chamam de
sonsei, sansei, sei lá!... Fica falando umas palavras esquisitas em japonês. Aí
todos se agarram, se puxam, se empurram, e por fim, jogam um ao outro no chão
com a maior violência. E parece que eles gostam muito, porque logo que caem,
levantam-se rapidamente para serem novamente derrubados. Cara, é insano! Só
vendo!
Só de lembrar meu corpo fica todo
doído. Coisa de louco, rapaz!...
Puxei conversa com um cara que
estava lá assistindo ao t-r-e-i-n-o. Ele me falou que também fazia aquelas
maluquices. Eu disse pra mim: outro doido! Perguntei-lhe por que ele não estava
se agarrando com os outros. Sabe o que ele me disse? Que estava se recuperando
de uma lesão. Aí eu pensei: claro, né? Desse jeito, quem é que aguenta tanto
tempo sadio?
Aí ele foi me contando... Disse
que tinha ido a São Paulo e lá, numa competição, quebrou o ombro. Então o
lesionado começou me explicar como tinha sido, mas eu não queria deixar. Tu é
doido, cara!
Mas ele insistiu. Acabei cedendo...
Sabe como é, né? Eu era visitante. Fiz cara de interessado, e ele me contou que
já tinha quebrado os braços, que os joelhos dele são estourados, que já fez
cirurgia nos dois tornozelos... Só não contou mais doidices porque eu meti
outra conversa. Tu é doido, rapaz! Mas você precisava ver a felicidade do cara
me contando essas coisas... Como é pode, né? É impressionante...
Outra coisa que ele fez questão
de me dizer: que ele é faixa preta. Parece que ser faixa preta por lá é algo muito
importante. Ele me falava de uma forma especial que denotava todo o orgulho que
sentia. Percebi que a briga lá é pra conseguir essa tal faixa preta, porque aí
eles são tratados de sonsei, sansei...
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E eles usam essas palavras japonesas
o tempo todo. Fiquei pensando: ma’rapaz, nós não somos brasileiros? Não moramos
no Brasil? Por que então ficar falando uma língua dos outros? Camões deve se
revirar no túmulo... Machado de Assis, coitado... Tanto que trabalharam em prol
da nossa língua, do nosso Português. Com certeza, não iriam gostar de
ver esses caras andarem por aí tirando onda de japonês....
Depois disso, comecei a observar
que tá cheio desses malucos por aí. Tem academia de judô por tudo quanto é
lugar. Não entendo isso, cara! A que eu fui, chama-se Monte Branco. Monte
Branco!... Já pensou? Nem procurei saber o porquê desse nome. Tu é doido?! Deve
ser mais uma esquisitice.
Essa tal Monte Branco fica lá no Residencial
Pinheiros. Se você também quer ver essas doidices, vai lá! Veja com seus
próprios olhos... Me diz depois se eu estou exagerando.
Endereço da Academia Monte Branco de Judô